ADVERTENCIA SOBRE O PERIGO
Não existiu um verdadeiro criador que não tenha brincado com os extremos da afirmação e da negação.
Pela mesma sorte, todo o verdadeiro criador – aquele com necessidade urgente do absoluto – aspira ao desconhecido. Será infeliz só com as explicações sobre a realidade para consumo das massas. Não poderá conformar-se com os ideais, teorias, conceitos, sistemas ou modelos, propostos para garantir sem perigos, o funcionamento social.
Sedento, procurará a nova resposta, única, diferente: a chave do mistério – e não descansará até a encontrar. Por isso há muitos promotores, interpretes, repetidores, ensaístas, investigadores, especialistas, continuadores, críticos, mas poucos, muito poucos criadores. No Taoísmo chamam-se aos criadores Homens Verdadeiros; os restantes são os imitadores ou adaptadores, os profanos.
Os fazedores de teatro não escapam a esta estranha regra humana. Poderíamos assegurar que a evolução desta arte, dependeu justamente dessas especiais identidades que não aceitam as formulações que no seu momento, para a sua época, se impunham como realidades teatrais. Trituraram o passado, foram intransigentes consigo mesmos e também com o público; com o público que representa sempre o momento actual, o mundo histórico com a sua carga de cultura estabelecida.
Talvez por isto haja outra regra na qual estarão submetidos os criadores verdadeiros: dificilmente serão compreendidos no seu tempo, porque estão a violentá-lo. Exigem do presente uma sensibilidade que somente se desenrolará no futuro, as vezes com séculos de espera.
Descobrir estas constantes é importante para entender que – como toda a alquimia humana derivada de uma operação, de uma actividade – a do criador tem a sua própria. E neste caso concreto, eles inventarão, farão nascer – já que é criação – de novo, por primeira vez: o Teatro. Um teatro desconhecido.
Juan Carlos De Petre
Tradução António Abernú