Os artistas por vezes surpreendem-nos além da sua obra de arte: com o seu pensamento e sentir descritos.
Adicto cada vez mais aos processos criativos, fui ontem assaltado por uma frase num quadro do Artur Bual – numa exposição retrospectiva na Galeria Perve em Alfama. Quadro esse que é um estudo para a estação de comboios da Amadora.
“Tudo o que penso e medito, fica na metade, querendo quero o infinito. Fazendo, nada é verdade.”
Não me interessa fazer a dramaturgia da frase… o que me alerta e inquieta é o final: fazendo, nada é verdade, que deixou os meus neurônios em ebulição constante desde ontem.
Fazendo, cocriamos e recriamos a realidade. Mas… será realmente esta uma verdade: a obra terminada!
Arrisco a dizer que a arte cria uma meta realidade, um outro universo (não interessa se é paralelo ou não) que nos faz equacionar a realidade verdadeira.
Talvez, e também por isso mesmo a arte seja desconcertante, arrojada, blá, blá, blá… Talvez por isso mesmo os artistas, como diz Juan Carlos De Petre: “dificilmente serão compreendidos no seu tempo, porque estão a violentá-lo. Exigem do presente uma sensibilidade que somente se desenrolará no futuro, as vezes com séculos de espera.”