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li algures, que a idade se conta pelas histórias que vamos somando ao longo da vida…

Faz hoje um mês que se foi… sim!, no dia 25 de dezembro, uma prenda para o resto da vida. Eu nunca gostei do Natal…  Aliás, partiu no dia 25, enterrou-se a 27 e faria 82 anos, no dia 29, se tivesse lá chegado. Um grande senhor, que por um acaso do destino, foi o meu pai.

…e de uma forma gastronómica e sociocultural, posso dizer que não desapareceu apenas o meu pai, mas sabores, doces e pratos que tive o prazer, eu e muitas outras pessoas, em ter saboreado, cheirado e degustado, abrindo sorrisos e reações de satisfação, que fizeram parte das histórias de casamentos, batizados e festas de tantas pessoas… Tanto que levas contigo, pai…

Desde muito novo, que acompanhava o meu pai, a carregar e levar pratos, mesas e talheres que proporcionaram, aqui e ali, as histórias de vida de muita gente. Não era fácil para uma criança lidar com aquele adulto capricorniano,  calado… mas aprendi tanto! Obrigado pai.

…e se há uma dor que não se pode tirar, também há uma revolta pela “forma” como morreu: pelo menos 22 minutos em agonia respiratória, porque uma enfermeira lhe enfiou uma sopa fria do almoço, com uma seringa pela boca abaixo, na posição horizontal às 16:20… um pobre ser que já mal tinha o reflexo de deglutição. Os hospitais não são centros humanos!  Apesar do respeito pela minha mãe, que assistiu a tudo e que me disse que nós não queremos o mal de ninguém, fiz queixa junto de algumas entidades. Porque estas coisas têm de se saber, porque temos e devemos reclamar – e não apenas nas conversas de café… sou humano e gostaria que coisas similares não acontecessem a mais ninguém futuramente.

Aqui há uns anos, a Associação Comercial de Elvas fez um jantar de homenagem ao meu pai, onde ele disse que gostava de bem servir os outros. Dizia isso, por vezes quando contava histórias curiosas de festas de casamentos e de outras festas que fez… de alguma forma, creio que me deixou isso na herança dos genes.

… questiono-me porque tive de ver o meu pai ir embora sem “ser ele”… mas sim um ser demente, frágil, indefeso e confuso, uma criança. Um homem forte e imponente como era… A resposta que encontro, ou uma das…  é que ele me quis mostrar que por mais… mais dinheiro, bens, títulos e coisas que possamos ser, não podemos nada contra a nossa vida e morte… seja ela qual for.

Mais do que um pai, perdi um grande amigo, que sempre me acompanhou, sempre acreditou em mim e sempre me deu uma segunda, terceira e quarta oportunidade… mas se perdi esse amigo, ganhei uma espécie de anjo, que me acompanha e com quem falo sozinho …  até já pai