Monthly Archives: Abril 2015

 

Nós procuramos outras condições porque não sabemos desfrutar da nossa e vamos para fora de nós próprios por não sabermos como é estar dentro de nós próprios. Por isso, não vale a pena andar com andas, pois mesmo assim, teremos de andar com as pernas, e mesmo que nos sentemos no trono mais importante do mundo, ainda estaremos sentados com o traseiro. Michel de Montaigne (1533 -1592)

 

Há sempre histórias dentro da história que não se podem contar…

Há sempre pequenas coisas e pormenores que não se contam.
Traços de sentires que ficam a meio… dores que disfarçamos com ironia… doses de engasgos para procurar a melhor saída… coisas que na altura pensamos ser melhor não o fazer, haverá concerteza outra altura melhor, que pensamos ser mais conveniente… pensamentos que não partilhamos, por nosso proveito… por medo, receio e patetice… por cobardia, por fuga, e por vezes até, pensamos para nós próprios, para bem dos outros… Vão-se refinando com o suposto amadurecimento e a racionalização das emoções…
Somos um tanto ao quanto falsos na forma como nos confessamos a nós mesmos, nunca somos verdadeiros…

E assim a história nunca é a historia… A história é sempre feita à medida de cada um, para cada um, por cada um… A história ao fim de contas é sempre diferente e nunca uma só… A história são histórias.

Há uns anos atrás eram os rádios a pilhas, o Rui Veloso até escreveu um tema sobre isso: o negro do rádio de pilhas. Hoje em dia são os telemóveis que funcionam como rádio de baterias, por todo o lado, em alta voz. Tudo é tão cíclico, até o modus operandi das próprias pessoas.

Na procura de tentar perceber o que será a fé, parti por Elvas de outros tempos – que tem, agora, toda uma iluminação em tons de amarelo – cruzando-me com a procissão (caminhar) dos homens e a do enterro do senhor…

Elvas que me parecia bem maior à uns anos atrás, quando tinha seis ou sete anos e convenci o Patrick e o Bruno para fugirmos para a parada do castelo, pois para mim, seria ali o Brasil e o samba… Agora parece-me tudo mais pequeno e não é porque eu sou bem maior…

O que sempre me fascinou mais nestas procissões foram as matracas, marcando um ritmo, implicando uma qualquer solenidade…e os turíbulos que queimando o incenso, desenham formas de fumo etéreas por onde passam…
E no meio do percurso da procissão, paramos para beber um café, tirar notas e reflectir sobre isto da fé, enquanto o relógio da praça da República bate as vinte e duas horas da noite…


A Banda 14 de Janeiro, que sempre acompanhou estes rituais, claro está que já não vai lá o Victor nem a Teresa… mas há caras por entre os que fazem parte e os que vão apenas atrás que são as mesmas, com uma grande patíne cronológica por entre sulcos de pele de dores escondidas, mas que sorriem quando me veem…

Todo este ritual termina com uma teatralização do enterro de cristo – 3 vezes o levantam e baixam, todo envolto em panos brancos sem sangue, até que com estrondo fecham o caixão com ele dentro… Não gosto propriamente de discursos de padres, mas este termina de uma forma astuta e curiosa, dizendo esperar encontrar tanta gente na igreja na missa do dia seguinte da ressureição do senhor, como agora na noite do seu enterro – sabendo ele como eu, que nem metade lá vai estar no dia seguinte – afinal celebramos a morte ou a vida?

…e volto para casa, questionando-me ainda mais no que será a fé?… E sou levado a pensar que não existe, a não ser que se acredite nela…

Boas amêndoas!