Monthly Archives: Março 2012

…durante o mês de Abril vou estar novamente a ministrar um workshop sobre uma das áreas que mais me apaixona na vida – o corpo e o seu movimento. No espaço Ágora – Biblioteca da FCT/UNL no Campus de Caparica. Este workshop terá continuidade numa segunda fase no mês de Maio. Já sabem que será um prazer vê-los por lá 🙂

O Corpo Orgânico, Movimento Expressivo e Corporal

Estas sessões são baseadas em exercícios de descontracção, respiração, confiança, jogos teatrais, pequenas dramatizações e improvisações do trabalho base do actor.Com uma forte atenção e incidência pelo corpo e pelo movimento expressivo e corporal – corporalidade do actor.

Local: Ágora | Biblioteca FCT/UNL

Segundas e Quartas| 17h às 19h | 10 a 15 participantes 4 Sessões | 2h/sessão

Sessão 1 | Abril 9

Corpo e Movimento

Sessão 2 | Abril 11

Corpo e Movimento – Voz

Sessão 3 | Abril 16

Memórias Sensoriais e Afectivas

Sessão 4 | Abril 18

Improvisação

Preço: 40 €/participante

http://www.biblioteca.fct.unl.pt/

Inscrições: biblioteca@fct.unl.pt

Contacto: Sílvia Reis, Ana Alves Pereira

Telf. 21 2947829

Sobre o Workshop.pdf

Não!, não estive lá!

Mas coloco a fotografia, porque mesmo sem querer lançar mais dissabores no meio deste nosso quotidiano, não posso ficar indiferente à expressão e  à linguagem corporal do Senhor Agente da Autoridade. Creio que são treinados e formados para evitar os confrontos, para minimizar os ferimentos, as agressões e os distúrbios… mas a fotografia de Hugo Correia – não esquecer que fotografias são gravações de instantes –  não mente nem nos pode deixar indiferentes ao olharmos para o Senhor Agente, que está sem duvida alguma “ao ataque”. Não é preciso “ter um curso” para perceber que os ditos senhores agentes, foram autorizados para “entrar a matar”… Como é possível numa sociedade civilizada aceitar-se um grau de violência desta forma…

Custa-me também ler nas redes sociais, pessoas que também não estiveram lá e adoptam uma posição de defesa dos senhores agentes da autoridade. Como é possível numa sociedade civilizada aceitar-se um grau de violência desta forma…

Todos sabemos que nestes acontecimentos, os ânimos estão sempre á flor da pele e é muito fácil extravasar as emoções e as revoltas – e creio que aqui todos somos unânimes em assumir que as temos, ou não?… Não vamos a lado algum desta forma, nem com a violência nem com o não quer ver ou perceber o que está por detrás de tudo isto… o não querer abrir os olhos… o não querer tentar fazer com que as coisas mudem – porque se mudarem, duvido muito que seja para pior…

Uma carrinha de voluntariado aos sem abrigo de uma instituição social, visita o local onde se encontra uma família desalojada. Os elementos da família são levados um a um para o interior da carrinha para serem observados e aconselhados. A filha mais velha é a primeira, dão-lhe um cobertor, um chá e um pacote de bolachas água e sal. Ela está envergonhada, entre um choro de desabafo e sorrisos de tensão, vai respondendo às perguntas de uma técnica da assistência social.

Muito obrigada, mas não tenho fome… Sorri. Ainda à pouco comi um pão com manteiga. Vou guardar se não se importa, para a minha irmã… Porque é do meu sangue, porque é a minha família. Quer motivo maior? Eu acho que por vezes já sou o suficientemente egoísta… Cobre- se com o cobertor, numa tentativa de esconder as lágrimas que caem pela cara.

Eu tenho a minha própria família, estão lá fora! Mas sim minha senhora, há dias em que penso nisso o dia todo. Ter o meu próprio sitio, as minhas coisinhas, todas arrumadas, cada uma no seu sitio… Nada de mais, apenas o necessário para poder passar os meus dias. E um gato! Um gato branco para me chatear quando chegar a casa. Sorri. Mas não consigo fazer isso! Não consigo… Penso muito nisso sim. No ir… Era bem mais fácil. Não sei, já não sei nada… Sorrindo. Não sei o que vou fazer dentro de cinco minutos, quanto mais saber se vou aguentar tudo isto. Vivo agora. Sinto agora. Estou ao sabor do vento e deixo-me estar, pelo menos por agora. Se ele soprar mais forte, logo vejo… Volta a cobrir-se com o cobertor e fica a olhar pela janela da carrinha. Tempo… Sonhos? Não me lembro do ultimo nem do primeiro… é como se tivesse desligado o interruptor que nos faz sonhar… é como se os meus sonhos tivessem ficado na nossa casa, quer dizer, naquela casa… Sorri a medo. Talvez tenha de lá regressar, só para recuperar os meus sonhos… Os olhos enchem-se de lágrimas, mas continua com um sorriso nos lábios. Ultimamente a maior preocupação que tenho, é se chove, se faz frio… Se a minha irmã come, se o meu pai come, se a minha mãe come…Se amanhã acordo, se eles acordam…Todas as minhas preocupações são eles… Com o que tenho agora, até uma tenda seria um palácio. Quando se esta numa situação como esta minha senhora, qualquer casa, é uma casa…Eu não escolhi isto! Que posso eu fazer?… Sim, posso seguir o meu caminho e deixá-los para trás, mas não penso nisso agora… Olha para o pacote de bolachas, indecisa tenta abrir. Abre, tira uma bolacha. Fica num impasse a olhar para a bolacha, leva-a á boca, mas não come… Não! Não tenho nenhum arrependimento para com nenhum deles… Come a bolacha com vontade… Ás vezes penso que sim… que existe um sentimento de piedade em relação a eles – eu não tenho nem preciso de viver isto. A minha mãe não chora.O meu pai pouco fala. A minha irmã pensa que estamos a acampar e está feliz… Antes de adormecer penso que podia estar confortável, algures noutro sitio entre o céu e a terra… Bebe chá e recosta-se na cadeira. Não! Que ideia a sua. Claro que ninguém me ameaça para ficar. Nunca ouve abusos de poder, nem por parte da minha mãe, nem do meu pai. Nunca me bateram, acredita?… Não sei… Gosto muito da ideia deles terem uma vida sem necessidades e sem problemas… sem faltas… Oh meu deus!, isso seria tão bom! – Mesmo que me tivesse de sacrificar o meu contacto com eles… Bebe mais chá e fica absorta na caneca. Não acho que seja uma missão, mas sim uma obrigação. Acho que preciso disto. Ou se calhar são eles que precisam de mim… Já não sei…Este chá é saboroso, bem haja. Sorri por simpatia. Gostava que tivesse sido diferente. Gostava que… gostava… Creio que sempre fui muito verdadeira com eles, sempre falei do que precisava, por vezes até falei demais… Acho que eles não tiveram a culpa desta situação…. Se alguma coisa tivesse sido diferente?… Não consigo atribuir culpa a ninguém… Talvez, ás vezes… ás vezes acho que eles tiveram culpa. Já não sei… Mas sabe… uma família é tão bonito. Sorri. Já quis ter uma … Queria ter uma menina e um menino. Primeiro ele para agradar ao pai, depois ela para me fazer companhia…Já quis. Hoje, já não sei… Daquela que me consigo lembrar, sim… Foi uma boa infância. Mas numa situação como esta, acho que ficamos com as memorias bloqueadas… Talvez as recordações tenham mesmo ficado nas paredes daquela casa… Quando consigo olhar para trás… as brincadeiras, os sorrisos… acho que era feliz sim. Mas tenho dificuldade em recordar-me disso gora… Levanta-se da cadeira, apanha no pacote de bolachas e mesmo antes de sair da carrinha, volta-se para a técnica e num tom doce diz: Por favor, não conte nada desta conversa á minha família, peço-lhe! Obrigada. Sorri.

Exercício para um audição.