Monthly Archives: Setembro 2011

Duas cidades. De uma, para a outra, em constante movimento. Uma têm um rio e muita água á volta. Outra é no meio do Alentejo, qual ribeiro de outrora…

Subitamente percebo que a água é como a nossa sombra, rodeia-nos e está sempre onde estamos, até mesmo dentro de nós. Talvez pelo projecto do homem água, talvez porque como outras tantas vezes, temos sempre o que precisamos mesmo o nosso lado e não vemos ou percebemos… ou ainda porque preferimos nem pensar nisso

Nas viagens _ essas trocas de energias entre sítios, protagonizadas e possíveis pelos viajantes… escrevia eu no natal passado, e que cada vez mais me faz sentido.

Ás vezes… ao contemplar o Tejo do terraço de um amigo, sinto que o rio me chama para ir… para for a de Lisboa. Não no sentido do mar.

Outras vezes, imagino a sobrevoarem as águas, bandos de Flamingos bem cor de rosa… passado por baixo da ponte, enquanto ensaiam um fado com os seus bicos

Aqui não há rio, não há água… só a das torneiras, das fontes resistentes e de quando em vez olhamos para cima, pró céu… e nuvens calmas, empurram-se umas ás outras formando o leito de rios… aqui há o calor, que a água também pode dar. Também há a amizade, que como a água, limpa, aquece, suja, limpa, aquece, arrefece, limpa e mata as saudades

E nas viagens, e com os viajantes que se cruzam nas viagem, percebermos que como a água, fluímos uns para os outros, uns com os outros, uns com cada um… uns, um

Paisagem de lua cheia ou um pedido concedido…

No Alentejo sente-se mais a densidade das energias… o calor dilata os poros e as trocas energéticas com o entorno são maiores… e há momentos que ficam encrostados na alma ou noutra textura parecida…

Quando se apanha banhos de lua cheia, daquelas que resplandecem e encandeiam com o seu reflexo na água…  sentimos a terra a subir pelos nossos pés, enquanto pela cabeça desce a energia das estrelas… no calor do toque somos um e tornamo-nos um com tudo… o som das cigarras e dos peixes que saltam na água, enchem o cenário por completo e roçam na pele como se fossem as palavras que não se dizem pelo toque… basta apenas a respiração e os cheiros

As horas dilatam-se como os corpos… no camuflado da noite, o tronco de uma árvore é o prolongamento dos braços de nós mesmos… se as orbitas das energias que libertamos fossem visíveis no ar, uma esfera colorida de sentir abençoava-nos no seu interior… com uma luz tão brilhante que faria inveja a qualquer pirilampo e atrairia de longe os lobisomens…

De facto, existem momentos em que a céu é cá em baixo na terra…

… em Évora chovem guarda-chuvas

As chegadas a Évora já não me vão sabendo a nada… sabe-me sim, sempre bem a amizade…

Mas esta chegada teve chuva e forte, daquelas que nos fazem perceber a força da chuva, da água…. para limpar e lavar, a terra e a nós… qui çá, para abençoar um ou outro que correm para as arcadas do Geraldo, já meio ensopados e chateados.

Mesmo nas caras repetidas que aguentam a cola do mesmo sitio de ano para ano, tendo lajes e pedras da calçada como cativas. Existem outras caras novas… que se não herdaram um lugar, começam a desgastar outras lajes ou outras pedras…

Se há um ano atrás, escrevia aqui mesmo: Nalguns passos que dou, reconheço na sola dos pés algumas pedras que já antes, outros anos , pisei…

Hoje foi mais de cima que me senti daqui, com a água, que me acompanha

A bruxa diz: não há uma, sem duas nem três… Évora outra vez.