…os limites são tão ténues que muitas vezes os confundimos… a atmosfera musical do momento trás o som de campo, de pássaros meio perto e em surround por detrás onde estão as marchas populares em playback na televisão, e ainda um som ambiente saído do computador…o verde da relva sobe fresco pela respiração e até parece quem nem estamos no verão… deixo-me ir na sensação destas mesmas arquitecturas de sons que existem no som…uma espécie de decomposição do real que serve de matéria prima para uma nova construção…o céu é rasgado por um avião
Monthly Archives: Junho 2010
…às vezes dá-me vontade de tirar o que sinto, como uma peça de roupa…tirar as emoções e os sentimentos, como uma camisa…e pô-los num cabide, guardar no guarda fatos… às vezes apetece-me não sentir, como o peso de um sobretudo pesado sobre os ombros, as dores, as ansiedades e por demais ais… não usar roupa é tão bom, dá-nos a liberdade total dos movimentos…era tão bom também o poder fazer com os sentires de vez em quando… e se se pudessem lavar e enxugar como a roupa, isso então
– Nunca mais faças isso!, peço-te por favor…
– Mas porquê? O que é que eu fiz?
– Nada
Apetecia-me por um post. Fui buscar os Jacarandás. Creio que este ano floresceram mais tarde, mas não tive atento à crónica deste ano do António Barreto no Público, por isso não sei… mas como sempre, num destes dias da semana que já não existe, fiquei estarrecido a admirá-los! Têm, para mim, uma cor mágica, espiritual…
Quando vivia lá pró Rato, avistávamos um Jacarandá mesmo da janela da sala… e era sempre um renovar de satisfação quando começava a florir… poucos dias depois, já lá em baixo na calçada, quando vinha da esplanada, já no chão, as suas folhas, podiam-se apanhar. Saudades do Rato.
…talvez levado pela idade, embora não queira recair nisso…mas sim pensar que temos estados e momentos que a nossa sensibilidade esta mais apurada ou focalizada para certas coisas…como a terceira idade ou os velhinhos ou as pessoas mais velhas, algumas de bengala, algumas de cadeira e todas elas a precisarem de ajuda, de uma ou de outra ou outra forma qualquer… e tenho feito exercícios assertivos e de personagem, tentado colocar-me no seu lugar sem querer sentir…exercícios esses que me levam num travelling pela minha vida até chegar a uma analogia da minha pessoa com a deles…não é difícil…e pensar, ter inevitavelmente de pensar quem haverá para me ajudar…já pensas-te nisso?, não da minha velhice, mas da tua!… e acabo quase sempre – quase! – por trocar um sorriso e um cumprimento com quem me revejo