Monthly Archives: Abril 2010

…ontem ou antes de ontem, passei pelo meio de uma conversa entre duas adolescentes, que na minha inocência, penso não deveriam ter mais do que 14 anos…pelo que consegui ouvir, porque além de não querer ser intrometido, as minhas passadas são bem maiores que as delas… falavam sobre os pais!

Que bonito, sem dúvida! Mas não dos pais que provavelmente o leitor e eu temos na cabeça… não os pais da minha geração e de outras ainda mais antigas… Elas falavam de vários pais de cada uma delas… uma dizia que a sua segunda mãe lhe andava a ligar para o telemóvel de dez em dez minutos a pedir-lhe conselhos_coisa que também me pareceu bastante “diferente”_depois dizia que outra mãe só lhe enviava sms de anedotas e queria que ela respondesse sempre a dizer o que tinha achado_um estratagema de controle de hoje em dia, creio… A outra falava do outro pai… mas os meus passos já as deixavam para trás e o som dos carros que passavam não me deixaram ouvir mais…

E fui, passo a passo, distanciando-me das moças e com o pensamento deveras concentrado e dedicado a elas e ao que seriam os seus pais…

Se quando era criança, ter um amigo ou uma amiga com pais separados era uma novidade, creio que todos somos conscientes que hoje em dia isso é perfeitamente natural. Mas nunca tinha pensado nas possibilidades das novas famílias, que creio bem se encaminharem para uma espécie de família “única”, em que todos nós fazemos parte dela…

Ou seja, se os pais daquelas moças se tivessem separado e voltado a casar, cada uma delas teria dois pais biológicos e outros dois por acréscimo… se por sua vez esses pais se voltassem a separar e voltado a casar novamente, cada uma delas continuaria a ter dois pais biológicos e mais dois por acréscimo e ainda mais quatro com quem pelo menos tiveram contacto e que provavelmente continuam a ter… agora pensem nos irmãos, meio – irmão, primas, sobrinhos, tios… Provavelmente alguma daquelas moças era familiar sua ou até mesmo minha, o que me levou então a pensar no que antes escrevi_familia “única”.

Creio que não valerá muito a pensa pensar se é bom ou mau, melhor ou pior, não só porque é mesmo assim e não há forma de o contornar, mas porque também provavelmente alguns, mesmo tendo apenas dois pais biológicos, sofreram com isso…

ADVERTENCIA SOBRE O PERIGO

Não existiu um verdadeiro criador que não tenha brincado com os extremos da afirmação e da negação.

Pela mesma sorte, todo o verdadeiro criador – aquele com necessidade urgente do absoluto – aspira ao desconhecido. Será infeliz só com as explicações sobre a realidade para consumo das massas. Não poderá conformar-se com os ideais, teorias, conceitos, sistemas ou modelos, propostos para garantir sem perigos, o funcionamento social.

Sedento, procurará a nova resposta, única, diferente: a chave do mistério – e não descansará até a encontrar. Por isso há muitos promotores, interpretes, repetidores, ensaístas, investigadores, especialistas, continuadores, críticos, mas poucos, muito poucos criadores. No Taoísmo chamam-se aos criadores Homens Verdadeiros; os restantes são os imitadores ou adaptadores, os profanos.

Os fazedores de teatro não escapam a esta estranha regra humana. Poderíamos assegurar que a evolução desta arte, dependeu justamente dessas especiais identidades que não aceitam as formulações que no seu momento, para a sua época, se impunham como realidades teatrais. Trituraram o passado, foram intransigentes consigo mesmos e também com o público; com o público que representa sempre o momento actual, o mundo histórico com a sua carga de cultura estabelecida.

Talvez por isto haja outra regra na qual estarão submetidos os criadores verdadeiros: dificilmente serão compreendidos no seu tempo, porque estão a violentá-lo. Exigem do presente uma sensibilidade que somente se desenrolará no futuro, as vezes com séculos de espera.

Descobrir estas constantes é importante para entender que – como toda a alquimia humana derivada de uma operação, de uma actividade – a do criador tem a sua própria. E neste caso concreto, eles inventarão, farão nascer – já que é criação – de novo, por primeira vez: o Teatro. Um teatro desconhecido.

Juan Carlos De Petre

Tradução António Abernú

O Alentejo parece que tem sempre a porta aberta, para nos receber…lá vamos nós, sozinhos ou em grupo, sempre com um propósito…sempre somos esperados ou por quem lá está ou por quem lá esta para ir embora… mas esperados, como se alguma espécie de laço, sentimento ou emoção ditasse essa mesma razão.

E vamos. Viajamos para lá…viajamos na espera de quem chega, na vontade de ir num jogo contra a saudade de ficar e o saudosismo nos que ficam. O Alentejo agarra, cola ao corpo com o vento que passa a sua calma, a sua paz disfarçada… as pedras da calçada fazem sentir a terra escura avermelhada que fértil germina vida e força… as vozes são curtas e fortes, que num misto de simpatia e confiança, mostram na sombra das paredes a estranheza, o pensamento que se lhes adivinha… caminhamos serenos, sabendo que não estamos sozinhos, mesmo na madrugada fria, à sempre um ruído que nos acompanha, o vento, um pássaro, alguém que espia… no Alentejo de Serpa cria-se coisas, como em todo o Alentejo, mas aqui levamos fortemente com a sua disfarçada paz… aqui sentimos ao passar nas ruas que já nada volta a trás, como as portas e os vasos que se seguem uns aos outros, tudo passa e tem para passar… aqui dói ter de sentir, por vezes, esse mesmo passar, mesmo quando se sente um vazio de nada haver para fazer. Respiramos num copo de vinho, com olhares no sorrisos dos outros e nos lamentos do que somos ali, das ansiedades que combatemos e queremos serenar… no Alentejo os olhos ficam lá, nas imagens, nas paisagens, na cara das pessoas, nas rugas, nas mãos ásperas, na pele queimada, no sorrir matreiro… os olhos e os corações também ficam, nas saudades…no bater que já não é igual a antes, por não se estar lá, talvez por saudades, talvez porque o Alentejo e quem por lá está é mesmo assim, bonito